sábado, 5 de maio de 2012

Apresentação de um case

Este é um case elaborado por mim, como trabalho final para a disciplina de Oficina de Artes do Mestrado, no qual mesclei elementos reais, como a escola em que estou lotado, pensando em uma intervenção através das Artes para reesolver problemas pontuais naquela comunidade.

Case – IDENTIDADE CULTURAL

                                   “Veremos que a poética não é uma arte do sonho e da ilusão, mas sim
 uma maneira de conceber-se a si mesmo, de conceber a relação
 consigo mesmo e com o outro e expressá-la.
Toda poética constitui uma rede”.  
Édouard Glissant

Em uma escola na zona rural de Juiz de Fora

     A cidade de Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, possui mais de 500 mil habitantes, sempre despontou no Estado como uma cidade de vanguarda, plena nos períodos áureos da industrialização e ponto de referência conhecido, dada a proximidade com o Rio de Janeiro.  O município sempre figurou como importante espaço dentro da Zona da Mata Mineira, chamando muitos imigrantes, em busca de trabalho e condições melhores, revelando algumas dicotomias: moderno e antigo, urbano e rural, riqueza e pobreza, etc.
     Apesar da modernidade, a cidade apresenta regiões rurais onde “o progresso” não chegou por completo, nem a possibilidade de escolher uma escola melhor. Assim, encontramos numa zona rural de Juiz de Fora, a escola do bairro Filgueiras. Desde sua fundação, o bairro conta com aquela única instituição de ensino, oferecendo turmas do 1º ao 9º, e tendo de “exportar” para outro bairro, os alunos secundaristas, que almejam continuar seus estudos.
     Apesar de ser a unidade de formação e interação daquela comunidade, a escola não era respeitada, sendo constantemente vandalizada, assaltada, vandalizada, e ainda, esquecida pela Prefeitura e Secretaria de Educação. Os professores ministravam suas aulas e não se articulavam de modo a promover uma transformação social naquela comunidade. Mas aquela situação precisava mudar...
 



Novo ano letivo... nova diretora

     O ano de 2011 prometia muitas mudanças para Filgueiras. No ano anterior houve eleição para diretor escolar, e a comunidade havia elegido para o cargo de gestora escolar, a Professora Miriam.
Miram, era professora de artes, nascida e criada naquele bairro e conhecia bem as necessidades daqueles moradores, e lecionava há dez anos naquela escola, em que estudou e a viu sendo depredada e esvaziada de sua história, apesar de carregar lembranças importantes daquela comunidade.
A nova diretora tinha vontade de transformar aquela construção velha e abandonada, recuperando suas dependências, devolvendo cores e formas àquele prédio, e mais que isso, direcionar os olhares dos moradores do bairro para a escola, fazendo-os corresponsáveis pela administração daquele bem público, até então, visto como de ninguém, para um bem de todos. Miriam acreditava convictamente que essa seria a solução, mas precisava da ajuda de muitos... e como conseguir?

No auditório da escola

     Miriam juntamente com as professoras Elizabete e Márcia, ambas de artes, elaboraram um projeto de intervenção na escola, que envolvia professores, alunos, pais, enfim, toda a comunidade do bairro. Era um projeto ousado e que precisava do apoio maciço de todos, haja vista que dependia de autorização da Secretaria de Educação para um dos encaminhamentos.
     A diretora então tomou a palavra, e pediu silêncio para que pudesse falar. O auditório estava muito cheio e todos ansiosos para saber o porquê daquela convocação. Primeiramente, Miriam agradeceu a presença de todos e ainda, o voto de confiança nela depositado quando da eleição e agora, efetivamente empossada, gostaria de retribuir esse gesto, trabalhando incansavelmente pela melhoria da educação na escola, bem como, da relação comunidade-escola, fazendo daquela instituição um espaço de interação e transformação social, cumpridora de seu papel.
     Miriam continuou:
     – Muitos me conhecem e sabem que nasci e me criei aqui nesse bairro. Estudei nesse colégio que hoje tenho a honra de dirigir e ainda, sinto-me extremamente chateada, ao ver como esse nosso espaço está cinzento e sem vida, interna e externamente falando. Leciono aqui há dez anos e venho acompanhando essa degradação, e acredito que seja a hora de mudar. Entretanto não depende só de mim ou dos professores, depende também, de todos vocês. Com certeza, iremos conseguir uma reforma para a escola, como em outras gestões, mas como fica a manutenção, o cuidado e o respeito para com esse bem público?
     Pedro, o professor de matemática, pediu a palavra e manifestou seu apoio à nova diretora:
     – Gostaria de citar como exemplo, o caso do Daniel, um ex-aluno, que foi preso em flagrante ao tentar roubar equipamentos do laboratório de informática. Estou chateado ao ver como a própria comunidade não valoriza esta escola, apesar de ser a única do bairro.
     Cláudia, mãe de alunos da escola, acrescentou:
     – Também fico chateada, com essa depredação. Já vi muitos alunos quebrando carteiras e chutando o portão da escola. Vejo lá de casa, alunos de outros turnos atirando pedras para dentro da escola. Estava comentando com a Carminha, como vendedores de drogas estão rodeando o colégio.
A diretora disse:
– Aproveitando sua fala, externalizo minha proposta de criar uma Identidade Cultural para esta escola. Elaboramos um projeto de intervenção que perpassa pelas artes, haja vista minha formação e, juntamente com as professoras Bete e Márcia, gostaria do apoio de vocês para formalizarmos junto à Secretaria de Educação, um plano de ação que visa à reforma física da escola, mas que garanta benefícios para toda a comunidade. Nossa proposta é trazer oficinas de artes, música e dança para as rotinas da escola e ainda, solicitar junto à Secretaria, a possibilidade da feira de artes, que acontece na praça do bairro, passar a ser realizada nos finais de semana, dentro da escola.
     A professora Márcia acrescentou:
     – Já conversamos com a presidente dos artesãos e ela achou ótima a ideia e comunga conosco de que a presença deles nos finais de semana diminuiria as chances de roubos e invasões, fazendo dos moradores também responsáveis por este espaço. A escola seria para seus filhos e ao mesmo tempo, também para eles.
     Miriam esclareceu ainda, que os alunos poderiam expor seus trabalhos nas feiras, e que as oficinas ministradas contribuiriam para sua formação, bem como para melhorar a renda de suas famílias. Ressaltou ainda, que para ela, a grande obra era promover uma transformação naquela escola, de modo a criar uma identidade cultural daquela comunidade, e que o colégio fosse espaço de interação, e ganhasse vida e cor, refletindo os anseios daquela comunidade.
     De repente Miriam viu-se ovacionada, o auditório todo de pé a aplaudi-la, muitas pessoas emocionadas e ela mais ainda.
      Pela primeira vez, alguém direcionava o olhar para além dos muros da escola...
 




 Os desafios

    Miriam encontrou relutância por parte da Secretaria de Educação, porque eles não gostariam que a escola estivesse com tamanha movimentação, inclusive favorecendo ações criminosas, dado o número de desconhecidos. Entretanto, após as devidas corresponsabilizações e assinaturas de termos de comprometimento, por parte da associação dos artesãos, autorizou um projeto experimental por seis meses, podendo permanecer após a confirmação dos benefícios e objetivos esperados.
    Para além desse primeiro obstáculo, a direção escolar encontrou dificuldades na articulação dos moradores e alunos para as obras em mutirão, uma vez que a prefeitura disponibilizou os materiais, mas solicitou que a própria comunidade administrasse a reforma.

Boas novas

    Passados os seis meses, até o prefeito apareceu para as fotos e cumprimentar Miriam. Seu projeto tornou-se um sucesso, revitalizou a comunidade, imprimindo as cores fortes de uma personalidade de coragem. Nesse período não houve qualquer delito na escola e graças ao movimento, até os vendedores de drogas afastaram-se dos portões da escola, e muitos pais aproveitavam a existência das barracas na escola para fazer suas “rondas”, ao mesmo tempo policiando e confraternizando-se com seus filhos.
    O muro da escola ganhou reboco novo, e na massa fresca, alunos, professores e comunidade, imprimiram as marcas de suas mãos, registrando para as futuras gerações, as digitais de uma comunidade que foi transformada pelas artes, pelo olhar diferenciado de uma gestora escolar e a rede criada por sua poética.


Referências: material disponibilizado na plataforma do mestrado / oficina de artes. Em: http://www.ppgp.caedufjf.net/course/view.php?id=59

7 comentários:

  1. Oi Warleson,
    assim como você estou estreando nesta arte de construir um blog. Meus alunos estão amando a ideia.
    Parabéns! Seu blog está muito interessante. Precisamos ter acesso a essas boas ideias. Obrigada.
    Isabel

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    1. Obrigado pela visita e pelas palavras.
      Em breve farei mais postagens.

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  2. Oi Warleson,
    Muito interessante seu Case.
    Parabéns pela iniciativa do blog.
    Gostei do tema escolhido, uma vez que também acredito no poder de transformação através do trabalho com a arte.
    Abraços, Renata

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  3. Warleson,

    Através do seu case da Oficina de Arte pude perceber como os saberes do Mestrado tem contribuído para avançarmos nos conhecimentos que exercitamos no decorrer do curso. Parabéns, gostei muito!

    CHICO VERDE - Monsenhor Tabosa - Ceará

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    1. Olá Chico,
      fiquei feliz com sua ilustre visita. Realmente o mestrado tem aberto os meus olhos para muitas coisas e na disciplina de artes vislumbrei caminhos que nunca havia percebido.
      Abraço.
      Warleson

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  4. Oi Renata,
    obrigado pela visita. O trabalho com as artes transformam nossas vidas, pois nos dão a capacidade de criar coisas novas em busca de uma educação melhor, sem contar o poder que o lúdico, cores e formas, exercem sobre nossos alunos.

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  5. Warleson,
    achei que seu blog ficou muito bom. Assim como você acho que a Arte-Educação possuem um incrivel poder de transformação.
    Parabéns pelo trabalho.
    abraços, Tati Reis

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